13 Dezembro, 2024
LIFE Aegypius Return promove boas práticas na gestão da alimentação suplementar para abutres

Abutres-pretos num campo de alimentação para aves necrófagas. Fotografia Bruno Berthemy/VCF.
A disponibilidade de alimento é um fator limitante que condiciona a distribuição, abundância e êxito reprodutor das aves necrófagas. Sem cadáveres de gado extensivo ou ungulados silvestres nos campos, os abutres não conseguem prosperar. O reforço da disponibilidade de alimento através de uma gestão meticulosa e segura dos cadáveres de animais ou suas partes (subprodutos animais) é um dos objetivos do projeto LIFE Aegypius Return.
A escassez de alimento naturalmente disponível para espécies necrófagas, entre as quais os abutres e outras aves de rapina, é comprovadamente um fator limitante para a estabilização ou crescimento das populações destas espécies em Portugal. Algumas destas espécies, como o abutre-preto (Aegypius monachus) e o britango (Neophron percnopterus) estão em risco de extinção, e uma das medidas essenciais para a sua conservação é o reforço da disponibilidade de alimento, conforme previsto no Plano de Ação para a Conservação das Aves Necrófagas (PACAN), aprovado pelo Despacho n.º 7148/2019, de 12 de agosto, e publicado em Diário da República.
Alimento disponível no campo insuficiente para necessidades da comunidade de abutres
Um estudo recentemente publicado pelo projeto LIFE Aegypius Return demonstra que o alimento atualmente disponível em Portugal é insuficiente para suprir as necessidades alimentares da comunidade de abutres – abutre-preto, grifo e britango – nas Zonas de Proteção Especial avaliadas pelo projeto, e que se localizam em torno ou nas proximidades das colónias de reprodução do abutre-preto ao longo da faixa raiana do país. Com base no diagnóstico realizado, o estudo apresenta uma estratégia para o aumento da disponibilidade alimentar que inclui a disponibilização de cadáveres de ovinos e caprinos em regime extensivo, em locais específicos das propriedades pecuárias, designados de APAAN: Área Privada para a Alimentação de Aves Necrófagas. Esta medida, apesar de legalmente prevista desde 2018, não tem ainda implementação relevante no terreno. De momento, apenas existe um APAAN em funcionamento, gerido pela Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural no Douro Internacional, como resultado do já terminado projeto LIFE Rupis.
Projeto quer criar 56 Áreas Privadas para a Alimentação de Aves Necrófagas em Portugal
O projeto LIFE Aegypius Return objetiva estabelecer 56 APAAN em Portugal e mais dez em Espanha e para atingir esta meta será fundamental estabelecer acordos de parceria com produtores pecuários, mas também assegurar que a gestão destas áreas é feita com total respeito pelas regras sanitárias e de saúde pública.
Neste contexto, o projeto organizou uma visita técnica à Herdade da Contenda, propriedade gerida pela homónima empresa municipal do Município de Moura, que possui um CAPAN – Campo de Alimentação Privado para Aves Necrófagas (área vedada onde são depositados animais mortos ou as suas partes), e pretende vir a incluir duas APAAN.
A visita contou com biólogos e médicos veterinários das equipas do projeto, com uma médica veterinária do Município de Idanha-a-Nova, e com técnicos da Direção de Serviços de Segurança Alimentar e da Divisão de Alimentação e Veterinária de Castelo Branco, da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Teve como objetivo discutir as boas práticas implementadas na Herdade, no que respeita à gestão do CAPAN – conforme a legislação e as recomendações publicadas pelo projeto no que se refere ao abutre-preto –, e analisar o possível funcionamento de futuras APAAN.
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"Áreas não vedadas" para alimentação é um método seguro para reforçar conservação dos abutres e gera benefícios económicos, ecológicos e sanitários
As APAAN, informalmente designadas de “áreas não vedadas”, diferem dos Campos de Alimentação para Aves Necrófagas, que têm de ser completamente vedados de acordo com normas técnicas muito exigentes e dispendiosas. As áreas não vedadas são necessariamente localizadas no interior de uma propriedade pecuária, e contam com algumas condicionantes como a localização afastada de habitações e de pontos de água, entre outros aspetos, o que as torna um método seguro de contribuir para a conservação dos abutres. Adicionalmente, a formalização destas áreas não vedadas evita a deposição de animais mortos em locais não licenciados e aporta vários benefícios económicos e ecológicos.
Além de ajudarem os abutres, as APAAN evitam os elevados custos de remoção dos animais mortos, por incineração ou enterramento, bem como as emissões de carbono associadas ao transporte. A rápida e eficaz alimentação dos abutres previne a transmissão de doenças e contribui para a funcionalidade e saúde dos ecossistemas. O estabelecimento das futuras APAAN será essencial para promover e manter o crescimento da população de abutre-preto em Portugal, e representa a mudança de paradigma necessária no que diz respeito ao restabelecimento da importante função da necrofagia nos nossos ecossistemas.
Os parceiros LIFE Aegypius Return agradecem a disponibilidade de todos os técnicos que participaram na visita e demais partes interessadas que têm colaborado na discussão de formas de operacionalização da alimentação suplementar para aves necrófagas.

O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os intervenientes relevantes, e da colaboração dos parceiros: a Vulture Conservation Foundation (VCF), o beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural (com cofinanciamento da Viridia - Conservation in Action), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Faia Brava - Associação de Conservação da Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.
A escassez de alimento naturalmente disponível para espécies necrófagas, entre as quais os abutres e outras aves de rapina, é comprovadamente um fator limitante para a estabilização ou crescimento das populações destas espécies em Portugal. Algumas destas espécies, como o abutre-preto (Aegypius monachus) e o britango (Neophron percnopterus) estão em risco de extinção, e uma das medidas essenciais para a sua conservação é o reforço da disponibilidade de alimento, conforme previsto no Plano de Ação para a Conservação das Aves Necrófagas (PACAN), aprovado pelo Despacho n.º 7148/2019, de 12 de agosto, e publicado em Diário da República.
Alimento disponível no campo insuficiente para necessidades da comunidade de abutres
Um estudo recentemente publicado pelo projeto LIFE Aegypius Return demonstra que o alimento atualmente disponível em Portugal é insuficiente para suprir as necessidades alimentares da comunidade de abutres – abutre-preto, grifo e britango – nas Zonas de Proteção Especial avaliadas pelo projeto, e que se localizam em torno ou nas proximidades das colónias de reprodução do abutre-preto ao longo da faixa raiana do país. Com base no diagnóstico realizado, o estudo apresenta uma estratégia para o aumento da disponibilidade alimentar que inclui a disponibilização de cadáveres de ovinos e caprinos em regime extensivo, em locais específicos das propriedades pecuárias, designados de APAAN: Área Privada para a Alimentação de Aves Necrófagas. Esta medida, apesar de legalmente prevista desde 2018, não tem ainda implementação relevante no terreno. De momento, apenas existe um APAAN em funcionamento, gerido pela Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural no Douro Internacional, como resultado do já terminado projeto LIFE Rupis.
Projeto quer criar 56 Áreas Privadas para a Alimentação de Aves Necrófagas em Portugal
O projeto LIFE Aegypius Return objetiva estabelecer 56 APAAN em Portugal e mais dez em Espanha e para atingir esta meta será fundamental estabelecer acordos de parceria com produtores pecuários, mas também assegurar que a gestão destas áreas é feita com total respeito pelas regras sanitárias e de saúde pública.
Neste contexto, o projeto organizou uma visita técnica à Herdade da Contenda, propriedade gerida pela homónima empresa municipal do Município de Moura, que possui um CAPAN – Campo de Alimentação Privado para Aves Necrófagas (área vedada onde são depositados animais mortos ou as suas partes), e pretende vir a incluir duas APAAN.
A visita contou com biólogos e médicos veterinários das equipas do projeto, com uma médica veterinária do Município de Idanha-a-Nova, e com técnicos da Direção de Serviços de Segurança Alimentar e da Divisão de Alimentação e Veterinária de Castelo Branco, da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Teve como objetivo discutir as boas práticas implementadas na Herdade, no que respeita à gestão do CAPAN – conforme a legislação e as recomendações publicadas pelo projeto no que se refere ao abutre-preto –, e analisar o possível funcionamento de futuras APAAN.
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Em cima: Análise do Livro de Registos do Campo de Alimentação Privado para Aves Necrófagas (CAPAN) da Herdade da Contenda. Em baixo: Vista ao CAPAN da Herdade da Contenda, a partir do interior do respetivo "Observatório do Alimentador de Abutres”. Fotografia VCF.
"Áreas não vedadas" para alimentação é um método seguro para reforçar conservação dos abutres e gera benefícios económicos, ecológicos e sanitários
As APAAN, informalmente designadas de “áreas não vedadas”, diferem dos Campos de Alimentação para Aves Necrófagas, que têm de ser completamente vedados de acordo com normas técnicas muito exigentes e dispendiosas. As áreas não vedadas são necessariamente localizadas no interior de uma propriedade pecuária, e contam com algumas condicionantes como a localização afastada de habitações e de pontos de água, entre outros aspetos, o que as torna um método seguro de contribuir para a conservação dos abutres. Adicionalmente, a formalização destas áreas não vedadas evita a deposição de animais mortos em locais não licenciados e aporta vários benefícios económicos e ecológicos.
Além de ajudarem os abutres, as APAAN evitam os elevados custos de remoção dos animais mortos, por incineração ou enterramento, bem como as emissões de carbono associadas ao transporte. A rápida e eficaz alimentação dos abutres previne a transmissão de doenças e contribui para a funcionalidade e saúde dos ecossistemas. O estabelecimento das futuras APAAN será essencial para promover e manter o crescimento da população de abutre-preto em Portugal, e representa a mudança de paradigma necessária no que diz respeito ao restabelecimento da importante função da necrofagia nos nossos ecossistemas.
Os parceiros LIFE Aegypius Return agradecem a disponibilidade de todos os técnicos que participaram na visita e demais partes interessadas que têm colaborado na discussão de formas de operacionalização da alimentação suplementar para aves necrófagas.

Foto de grupo tirada durante a visita técnica à Herdade da Contenda. Fotografia LIFE Aegypius Return.
O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os intervenientes relevantes, e da colaboração dos parceiros: a Vulture Conservation Foundation (VCF), o beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural (com cofinanciamento da Viridia - Conservation in Action), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Faia Brava - Associação de Conservação da Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.