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26 Setembro 2025

Dois abutres-pretos morreram eletrocutados em linhas elétricas no Tejo Internacional

Dois abutres-pretos morreram eletrocutados em linhas elétricas no Tejo Internacional

Abutre-preto morto por eletrocussão em linha elétrica. Fotografia Quercus.

O projeto LIFE PowerLines4Birds objetiva reduzir o impacto das linhas elétricas para melhorar a conservação de aves ameaçadas na Península Ibérica. Como parte do trabalho de monitorização na região do Tejo Internacional, em fevereiro passado, os técnicos do parceiro Quercus detetaram 26 casos de mortalidade por eletrocussão. Entre as aves eletrocutadas, foram identificados dois abutres-pretos (Aegypius monachus).

Das várias linhas elétricas monitorizadas, destacou-se uma em particular, com cerca de 25 km de extensão, onde se registaram 17 casos de mortalidade por eletrocussão: 13 grifos (Gyps fulvus), duas águias-cobreira (Circaetus gallicus), um abutre-preto e uma rapina de espécie não identificada.


Monitorização de linhas elétricas e deteção de grifos mortos por eletrocussão. Fotografia Quercus.


Atuação rápida para corrigir linhas elétricas


Dada a urgência da situação, os parceiros do projeto LIFE PowerLines4Birds articularam-se na partilha de informação e identificação de soluções, de forma a acelerar o processo de correção da linha elétrica identificada. A E-REDES, também parceira do projeto, tomou as medidas necessárias para que no início do mês de julho se iniciassem os trabalhos de instalação de dispositivos anti-eletrocussão, uma medida designada de "solução combinada" em que os cabos junto ao apoio são isolados. A Quercus acompanhou a instalação destes dispositivos no terreno e continuará a monitorizar estas linhas elétricas, garantindo que as medidas estão a funcionar corretamente para evitar a mortalidade da avifauna por eletrocussão.


Trabalhos de correção de linhas elétricas no âmbito do projeto LIFE PowerLines4Birds. Fotografia Quercus.

Combater os riscos de eletrocussão e colisão

O risco de eletrocussão das aves está tipicamente associado à utilização das linhas elétricas como pouso. O contacto entre dois condutores, ou entre o condutor e um elemento ligado à terra, permite a circulação de corrente elétrica pelo corpo da ave, causando a eletrocussão. Este risco é especialmente elevado durante os primeiros voos de indivíduos jovens, mas está também relacionado com as características morfológicas e ecológicas das espécies.

A interação das aves com linhas elétricas pode também resultar em mortalidade por colisão quando a ave embate nos condutores aéreos. Isto deve-se à dificuldade das aves em ver e evitar estes cabos, em parte devido ao posicionamento lateral dos olhos na cabeça, o que reduz a acuidade visual frontal. Este risco varia entre espécies consoante a sua morfologia, comportamento de voo, fenologia e idade.

O abutre-preto é uma das espécies muito ameaçada pela eletrocussão e pela colisão. Em Portugal, apesar da população reprodutora desta espécie ser reduzida, desde 2010 já foram registados nove casos de mortalidade por eletrocussão. A estes casos somam-se outros de mortalidade por colisão com linhas elétricas, fatores que pesam bastante na recuperação da espécie.

A mitigação do risco de eletrocussão passa por corrigir as linhas elétricas através da instalação de dispositivos anti-eletrocussão, tais como protetores de condutores e vedações que impedem que as aves toquem nas partes energizadas e nos apoios dos postes. Já para prevenir a colisão, podem instalar-se dispositivos de sinalização da linha como espirais, fireflies, marcadores oscilantes ou até luminosos, entre outras soluções tecnológicas ainda em teste.


Abutre-preto em voo. Fotografia Hansruedi Weyrich.


Cooperação é fundamental


A mitigação dos riscos de eletrocussão e colisão depende da deteção atempada de pontos de mortalidade, o que se consegue com uma boa monitorização em campo e remota.

O projeto LIFE Aegypius Return – dedicado à proteção do abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha – não prevê a ação direta sobre linhas elétricas, mas a vigilância em campo, o seguimento de aves marcadas com emissor GPS/GSM e a cooperação com projetos e entidades que podem atuar na redução do risco, como os projetos LIFE PowerLines4Birds e SafeLines4Birds.

Os parceiros LIFE Aegypius Return congratulam o consórcio LIFE PowerLines4Birds pela rápida atuação na correção das linhas perigosas identificadas na região do Tejo Internacional.

Sobre o projeto
 
O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo Programa LIFE da União Europeia. É implementado por um consórcio que integra a Vulture Conservation Foundation (VCF), o beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural (com cofinanciamento da Viridia - Conservação em Ação e MAVA - Fondation pour la Nature), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Faia Brava - Associação de Conservação da Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.