8 Agosto, 2024
LIFE Aegypius Return: 34 crias de abutre-preto marcadas com GPS
Cria de abutre-preto com dispositivo GPS/GSM no ninho. Fotografia Palombar.
Terminou, no início de agosto, a “época de marcações” de crias de abutre-preto (Aegypius monachus). Em 2024, o projeto LIFE Aegypius Return marcou 19 crias de abutre-preto com emissores GPS/GSM, no ninho, a somar às 15 de 2023.
Número de crias marcadas supera o previsto
O projeto LIFE Aegypius Return tinha planeado a marcação de 30 crias no ninho: 15 em 2023 e outras 15 em 2024. No entanto, os resultados positivos que a espécie tem demonstrado vieram alterar estas contas.
A equipa do projeto distribui as marcações - e o equipamento disponível - pelas várias colónias da espécie em Portugal. As quatro colónias reprodutoras até agora conhecidas revelaram uma expansão e confirmou-se uma quinta colónia, o que reforça a esperança na recuperação da espécie no nosso país.
Douro Internacional, a colónia mais isolada já soma oito casais reprodutores
A colónia reprodutora do Douro Internacional é a mais isolada do país, estando a mais de 100 km da colónia mais próxima, localizada em Espanha. Este isolamento, aliado ao seu reduzido efetivo, torna-a muito frágil, pois qualquer evento fortuito e adverso (como um incêndio) pode ter consequências devastadoras muito difíceis de reverter. A colónia foi estabelecida em 2012, com um casal que, à época, falhou a reprodução. O número de casais só aumentou para dois em 2019 e para três em 2023, pelo que foi, portanto, com surpresa que, este ano, se registaram oito casais nidificantes: cinco do lado português e três do lado espanhol. Foram marcadas três das crias nascidas este ano, uma delas no Parque Natural Arribes del Duero, em Espanha.
Estas marcações sobre as arribas são especialmente desafiantes devido à dificuldade em aceder aos ninhos e requerem a colaboração de diversos especialistas, também em escalada.
Este trabalho exigente foi possível graças a uma colaboração transfronteiriça que envolveu a Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural; o Parque Natural Arribes del Duero; a Junta de Castilla y León; a Universidad de Oviedo; a Liga para a Protecção da Natureza (LPN); o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF); a equipa veterinária do Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; e Javier de la Puente, especialista em conservação de aves e colaborador da Palombar.
Malcata, uma expansão notável
A colónia da Serra da Malcata estabeleceu-se em 2021, com quatro casais conhecidos. Em 2023, a colónia aumentou para o impressionante número de 14 casais nidificantes, e, em 2024, o número continuou a aumentar, para 19. Assim, planeou-se aumentar o número de aves marcadas este ano para seis.
No entanto, uma das crias identificadas para marcação era mais pequena, e, portanto, possivelmente mais jovem do que o esperado. A equipa recolheu amostras biológicas da ave, tendo esta sido hidratada, anilhada e devolvida ao ninho, para continuar sob os cuidados parentais. Será agora monitorizada à distância e, eventualmente, poderá ser equipada com um emissor muito em breve.
Na Malcata, foram então marcadas cinco crias nesta época. O desafio destas marcações prende-se com o difícil acesso aos ninhos e a altura das árvores sobre as quais estão construídos. Para planear uma marcação, é necessário garantir não só que se consegue aceder à cria no ninho, mas, também, que esta tem a idade e o peso adequados para receber o emissor GPS/GSM, o que, com as dificuldades de monitorização a longa distância (para evitar qualquer perturbação), se pode revelar muito desafiante.
A equipa das marcações na Reserva Natural da Serra da Malcata contou com a imprescindível colaboração do biólogo Carlos Pacheco, da Associação Transumância e Natureza/Faia Brava (ATN), da Rewilding Portugal, do ICNF, da LPN e da Vulture Conservation Foundation (VCF).
Tejo Internacional: marcado descendente de casal fundador da maior colónia do país
O estabelecimento da colónia reprodutora do Tejo Internacional em 2010 representou a recolonização oficial de Portugal pelo abutre-preto, após cerca de 40 anos de ausência como espécie reprodutora. Desde então, essa colónia tem sido acompanhada com atenção e, em 2023, albergava mais de metade da população reprodutora do nosso país. Este ano, o número de casais nidificantes aumentou para 61 (15 dos quais no lado espanhol), e foi possível marcar sete crias. Destas, uma é de linhagem conhecida! Foi marcada a cria do Aravil, abutre-preto que pertence à prole dos dois casais fundadores da colónia, em 2010.
Estas marcações foram possíveis graças à colaboração da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), da Quercus e do seu Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), da LPN, do ICNF, da VCF, da Guarda Nacional Republicana (GNR/SEPNA – Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente – Núcleo de Proteção Ambiental do Destacamento Territorial de Idanha-a-Nova); Grupo de Intervenção Cinotécnico da Unidade de Intervenção; e do ornitólogo e investigador Alfonso Godino. Contaram ainda com o apoio do Hawk Mountain Sanctuary e da ENDESA. Adicionalmente, os trabalhos de marcação foram acompanhados pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, através do Gabinete Médico Veterinário Municipal e Serviço de Ação Educativa - Área Ambiental.
Herdade da Contenda, a colónia que se expande para leste
Esta colónia reprodutora estabeleceu-se com dois casais nidificantes em 2015, no seguimento dos esforços de conservação do projeto LIFE Habitat Lince Abutre, liderado pela LPN. Desde então, tem vindo a aumentar gradualmente e, este ano, registou pelo menos 20 casais nidificantes – cinco dos quais já em território espanhol, mais três do que no ano passado. Embora ecologicamente todas as aves pertençam à mesma colónia, do ponto de vista administrativo e de conservação, esta aparente expansão aporta alguns cuidados adicionais no âmbito de uma colaboração transfronteiriça.
Em julho, foram marcadas três crias na Herdade da Contenda, graças à colaboração da LPN, do ICNF, da Herdade da Contenda - entidades que têm conjuntamente monitorizado a colónia -, da VCF, da ATN e de Carlos Pacheco. Os trabalhos contaram ainda com a presença de representantes da Câmara Municipal de Moura, proprietária da Herdade da Contenda.
A quinta e mais recente colónia, na Vidigueira
Esta colónia reprodutora, descoberta em junho pelo ICNF, é a mais recente e a menor do país. É também a colónia conhecida mais a oeste de toda a área de distribuição global da espécie.
Foram observados quatro ninhos de abutre-preto, mas apenas um com um casal reprodutor, cuja cria foi prontamente marcada por uma equipa constituída por elementos do ICNF – Delegação Regional do Alentejo, da LPN e o marcador, o biólogo Carlos Pacheco.
Marcar abutres-pretos para reduzir a sua mortalidade
As marcações são um processo complexo que requer a participação de especialistas de diversas áreas devidamente acreditados para o efeito: biólogos, médicos veterinários, autoridades, escaladores, entre outros. As aves são sujeitas a um exame médico-veterinário e à recolha de amostras biológicas que permitirão compreender o seu estado de saúde e estabelecer valores de referência para a espécie - informação de grande relevância para as equipas veterinárias e centros de recuperação de fauna silvestre que tratam abutres-pretos. Depois, são marcadas com uma anilha metálica com um código identificador único; com uma anilha colorida que permite a identificação da ave à distância; e com um emissor GPS/GSM, que passa a ser continuamente monitorizado.
O dispositivo, que pesa apenas cerca de 50 gramas, permite acompanhar os movimentos e os comportamentos das aves. Qualquer anomalia pode ser rapidamente detetada, uma equipa pode deslocar-se ao encontro da ave e, se necessário, encaminhá-la para um centro de recuperação de fauna silvestre. Esta atuação célere permite resgatar e cuidar de abutres que, de outra forma, provavelmente morreriam em campo. Quando se trata de uma espécie ameaçada, com uma população ainda relativamente reduzida, a sobrevivência de cada indivíduo reveste-se de grande importância para a sua recuperação.
No total, o projeto LIFE Aegypius Return prevê a marcação de 60 abutres-pretos. Além das crias marcadas no ninho, o projeto inclui a tentativa de captura de adultos, como o Aravil, e a libertação de juvenis recuperados, após o processo de aclimatação no Douro Internacional.
Os parceiros LIFE Aegypius Return reforçam os agradecimentos a todas as pessoas e entidades que têm colaborado na monitorização e nas marcações nas cinco colónias.
As equipas do projeto mantêm a monitorização das crias até estas saírem do ninho e se tornarem totalmente independentes, o que deverá acontecer até final de agosto ou início de setembro. Nessa altura, será também possível concluir e divulgar os resultados completos desta época de reprodução. Acompanhe tudo no website do projeto ou nas redes sociais dos parceiros.
Número de crias marcadas supera o previsto
O projeto LIFE Aegypius Return tinha planeado a marcação de 30 crias no ninho: 15 em 2023 e outras 15 em 2024. No entanto, os resultados positivos que a espécie tem demonstrado vieram alterar estas contas.
A equipa do projeto distribui as marcações - e o equipamento disponível - pelas várias colónias da espécie em Portugal. As quatro colónias reprodutoras até agora conhecidas revelaram uma expansão e confirmou-se uma quinta colónia, o que reforça a esperança na recuperação da espécie no nosso país.
Douro Internacional, a colónia mais isolada já soma oito casais reprodutores
A colónia reprodutora do Douro Internacional é a mais isolada do país, estando a mais de 100 km da colónia mais próxima, localizada em Espanha. Este isolamento, aliado ao seu reduzido efetivo, torna-a muito frágil, pois qualquer evento fortuito e adverso (como um incêndio) pode ter consequências devastadoras muito difíceis de reverter. A colónia foi estabelecida em 2012, com um casal que, à época, falhou a reprodução. O número de casais só aumentou para dois em 2019 e para três em 2023, pelo que foi, portanto, com surpresa que, este ano, se registaram oito casais nidificantes: cinco do lado português e três do lado espanhol. Foram marcadas três das crias nascidas este ano, uma delas no Parque Natural Arribes del Duero, em Espanha.
Estas marcações sobre as arribas são especialmente desafiantes devido à dificuldade em aceder aos ninhos e requerem a colaboração de diversos especialistas, também em escalada.
Este trabalho exigente foi possível graças a uma colaboração transfronteiriça que envolveu a Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural; o Parque Natural Arribes del Duero; a Junta de Castilla y León; a Universidad de Oviedo; a Liga para a Protecção da Natureza (LPN); o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF); a equipa veterinária do Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; e Javier de la Puente, especialista em conservação de aves e colaborador da Palombar.
Malcata, uma expansão notável
A colónia da Serra da Malcata estabeleceu-se em 2021, com quatro casais conhecidos. Em 2023, a colónia aumentou para o impressionante número de 14 casais nidificantes, e, em 2024, o número continuou a aumentar, para 19. Assim, planeou-se aumentar o número de aves marcadas este ano para seis.
No entanto, uma das crias identificadas para marcação era mais pequena, e, portanto, possivelmente mais jovem do que o esperado. A equipa recolheu amostras biológicas da ave, tendo esta sido hidratada, anilhada e devolvida ao ninho, para continuar sob os cuidados parentais. Será agora monitorizada à distância e, eventualmente, poderá ser equipada com um emissor muito em breve.
Na Malcata, foram então marcadas cinco crias nesta época. O desafio destas marcações prende-se com o difícil acesso aos ninhos e a altura das árvores sobre as quais estão construídos. Para planear uma marcação, é necessário garantir não só que se consegue aceder à cria no ninho, mas, também, que esta tem a idade e o peso adequados para receber o emissor GPS/GSM, o que, com as dificuldades de monitorização a longa distância (para evitar qualquer perturbação), se pode revelar muito desafiante.
A equipa das marcações na Reserva Natural da Serra da Malcata contou com a imprescindível colaboração do biólogo Carlos Pacheco, da Associação Transumância e Natureza/Faia Brava (ATN), da Rewilding Portugal, do ICNF, da LPN e da Vulture Conservation Foundation (VCF).
Tejo Internacional: marcado descendente de casal fundador da maior colónia do país
O estabelecimento da colónia reprodutora do Tejo Internacional em 2010 representou a recolonização oficial de Portugal pelo abutre-preto, após cerca de 40 anos de ausência como espécie reprodutora. Desde então, essa colónia tem sido acompanhada com atenção e, em 2023, albergava mais de metade da população reprodutora do nosso país. Este ano, o número de casais nidificantes aumentou para 61 (15 dos quais no lado espanhol), e foi possível marcar sete crias. Destas, uma é de linhagem conhecida! Foi marcada a cria do Aravil, abutre-preto que pertence à prole dos dois casais fundadores da colónia, em 2010.
Estas marcações foram possíveis graças à colaboração da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), da Quercus e do seu Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), da LPN, do ICNF, da VCF, da Guarda Nacional Republicana (GNR/SEPNA – Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente – Núcleo de Proteção Ambiental do Destacamento Territorial de Idanha-a-Nova); Grupo de Intervenção Cinotécnico da Unidade de Intervenção; e do ornitólogo e investigador Alfonso Godino. Contaram ainda com o apoio do Hawk Mountain Sanctuary e da ENDESA. Adicionalmente, os trabalhos de marcação foram acompanhados pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, através do Gabinete Médico Veterinário Municipal e Serviço de Ação Educativa - Área Ambiental.
Herdade da Contenda, a colónia que se expande para leste
Esta colónia reprodutora estabeleceu-se com dois casais nidificantes em 2015, no seguimento dos esforços de conservação do projeto LIFE Habitat Lince Abutre, liderado pela LPN. Desde então, tem vindo a aumentar gradualmente e, este ano, registou pelo menos 20 casais nidificantes – cinco dos quais já em território espanhol, mais três do que no ano passado. Embora ecologicamente todas as aves pertençam à mesma colónia, do ponto de vista administrativo e de conservação, esta aparente expansão aporta alguns cuidados adicionais no âmbito de uma colaboração transfronteiriça.
Em julho, foram marcadas três crias na Herdade da Contenda, graças à colaboração da LPN, do ICNF, da Herdade da Contenda - entidades que têm conjuntamente monitorizado a colónia -, da VCF, da ATN e de Carlos Pacheco. Os trabalhos contaram ainda com a presença de representantes da Câmara Municipal de Moura, proprietária da Herdade da Contenda.
A quinta e mais recente colónia, na Vidigueira
Esta colónia reprodutora, descoberta em junho pelo ICNF, é a mais recente e a menor do país. É também a colónia conhecida mais a oeste de toda a área de distribuição global da espécie.
Foram observados quatro ninhos de abutre-preto, mas apenas um com um casal reprodutor, cuja cria foi prontamente marcada por uma equipa constituída por elementos do ICNF – Delegação Regional do Alentejo, da LPN e o marcador, o biólogo Carlos Pacheco.
Marcar abutres-pretos para reduzir a sua mortalidade
As marcações são um processo complexo que requer a participação de especialistas de diversas áreas devidamente acreditados para o efeito: biólogos, médicos veterinários, autoridades, escaladores, entre outros. As aves são sujeitas a um exame médico-veterinário e à recolha de amostras biológicas que permitirão compreender o seu estado de saúde e estabelecer valores de referência para a espécie - informação de grande relevância para as equipas veterinárias e centros de recuperação de fauna silvestre que tratam abutres-pretos. Depois, são marcadas com uma anilha metálica com um código identificador único; com uma anilha colorida que permite a identificação da ave à distância; e com um emissor GPS/GSM, que passa a ser continuamente monitorizado.
O dispositivo, que pesa apenas cerca de 50 gramas, permite acompanhar os movimentos e os comportamentos das aves. Qualquer anomalia pode ser rapidamente detetada, uma equipa pode deslocar-se ao encontro da ave e, se necessário, encaminhá-la para um centro de recuperação de fauna silvestre. Esta atuação célere permite resgatar e cuidar de abutres que, de outra forma, provavelmente morreriam em campo. Quando se trata de uma espécie ameaçada, com uma população ainda relativamente reduzida, a sobrevivência de cada indivíduo reveste-se de grande importância para a sua recuperação.
No total, o projeto LIFE Aegypius Return prevê a marcação de 60 abutres-pretos. Além das crias marcadas no ninho, o projeto inclui a tentativa de captura de adultos, como o Aravil, e a libertação de juvenis recuperados, após o processo de aclimatação no Douro Internacional.
Os parceiros LIFE Aegypius Return reforçam os agradecimentos a todas as pessoas e entidades que têm colaborado na monitorização e nas marcações nas cinco colónias.
As equipas do projeto mantêm a monitorização das crias até estas saírem do ninho e se tornarem totalmente independentes, o que deverá acontecer até final de agosto ou início de setembro. Nessa altura, será também possível concluir e divulgar os resultados completos desta época de reprodução. Acompanhe tudo no website do projeto ou nas redes sociais dos parceiros.